domingo, 24 de fevereiro de 2013

Livre, enfim?


A dificuldade da rotina.

É preciso entender que determinadas situações, sentimentos e pessoas possuem prazo determinado na sua vida.
Com começo, meio e especialmente fim.
E mais ainda: É preciso deixá-las irem por completo, sem ficar resgatando-as. Por mais que doa, por mais que falta seja latente.

Tem coisa que vem, pra que possa ir embora.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Ela não quer dividir o brownie


Ela é solteira. Não sozinha. Ela pinta as unhas de vermelho quando quer. Mas, também, sabe deixar as unhas em cacos quando dá vontade. Esbanja esquisitices ao falar dos seriados prediletos. E se cala quando o assunto é sobre o porquê dela não ter namorado.

Ela usa vestido de tricô, daqueles clichês para tomar chá quando o tempo é frio. E bebe cervejas em canecas, como homens pré-históricos. Ela ri de palavrões e de piadas de humor negro. Mas, também, se derrete mais do que picolé em frigideira quando recebe um SMS romântico de madrugada. Mas por que não namora?

Ela acorda, escova os dentes de quem já usou aparelho, toma chocolate quente, se arruma e vai trabalhar. Prefere usar preto. Mas desbanca qualquer havaiana bonita quando inova em alguma vestimenta cheia de flores coloridas. Ela é linda e desconversa. Fala do tempo, do futebol, da novela, da mãe, da crise do Paraguai e do Joseph Gordon-Levitt. Mas por que tu não namoras?

Quando o assunto é sexo, ela fala menos do que escuta. Escuta com os ouvidos, com os olhos, com a boca e com os pêlos da coxa. Transa menos do que deseja. E sabe esconder alguma aspirante a Sônia Braga dentro daquele decote comportado. Ela curte os Beatles, os Novos Baianos, Caetano e o Cícero. E fala que eu tenho péssimo tom de voz. Lê Caio, Keroauc, Fante e Gabito. Mas diz que, também, gosta das minhas histórias.

É estranha, também. Assumo. Corta o cabelo de acordo com as fases da lua e gosta de comer macarrão com feijão. Gosta de umas bandas que ninguém conhece e chora com as histórias do Nicholas Sparks. Liga o ar condicionado porque gosta de dormir sentindo frio e acaba repousando feito uma esquimó com meias e edredom. Uma linda esquimó, por sinal. Não sabe usar o celular. Costuma atender as ligações somente após a quarta tentativa de chamada. Não, ela não ignora. Ela perde tempo é procurando o celular na bolsa, debaixo da cama ou pia na banheiro. Mas, vez em quando, ela sabe ignorar também. Não sabe dançar. Recusa os convites, mas adora ser convidada. Odeia batom e gosta de brincos de pena.

Mas por que ninguém conseguiu ultrapassar esse muro de Berlim que você ergueu no teu peito? Ela desconversa. Ri de canto de boca e me pergunta se eu fumo tentando desviar o assunto pra longe. Eu insisto. Falo coisas demodês e jogo no ar o fato de que eu a acho perfeita. Ela empina o nariz o fino, me lança teus olhos verdes escuro e ajeita-se sobre a mesa. Muda o tom e me fala: “Porque eu não quero”. E eu rio sem graça da minha maldita ideia de achar que todo mundo quer ter alguém para dividir os brownies.

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Hugo Rodrigues.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Afinal.

Quando você ler esse bilhete
já estarei na rodoviária
quem sabe até em alta estrada
viajei pra uma cidade chamada solitária

cansei de ser joguete, cacete
cansei de ser tão maltratada

deixei bife e arroz no microondas
joguei na privada aquela rosa
e a aliança
eu deixei pra você pagar as contas
não levo comigo celular nem a escova
somente a tua lâmina de barbear
e uma desesperança

chegando lá vou ficar bêbada de querosene
vou raspar os cabelos até perder a cabeça
vou cometer haraquiri
mesmo sabendo que nesse momento você ri.


- A Banda Mais Bonita Da Cidade - Solitária -