domingo, 29 de janeiro de 2017



Já diria Saramago: O caos é uma ordem por decifrar.

As coisas aparentam estarem todas fora do lugar.
As bagunças se espalharam para todos os aposentos, e você não sabe por onde começar a arrumar.
É difícil. Parece que você vai viver para sempre no meio dessa coisa estranha.
Você não sabe pra onde correr, e ao mesmo tempo, já cansou de tentar organizar.
Bem no fim, você pondera permanecer ali, daquele jeitinho. Afinal, já está há algum tempo assim.

Já te adianto: não vai dar certo.

Deixa o caos vir, se insere dentro dele, vivencia tudo o que ele pode te oferecer.
Permita se descobrir.

Mas depois, reorganiza tudo. Mesmo que seja pra deixar fora de outra ordem.
Mas não deixe ninguém ditar como deve se dar a sua mudança

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Dos escritos que precisam ser entendidos, e sobretudo, guardados

MEXENDO NO FORMIGUEIRO - SOBRE AS HISTERIAS

Eu queria mexer no formigueiro? Não, eu não queria mexer no formigueiro. Mas a cada postagem que faço sobre a histeria, ou se posto algum trecho de Freud ou de Lacan (e basicamente só tem isso no meu facebook), aparece alguém com um discurso feminista pautado numa leitura psicanalítica gravemente equivocada, fazendo críticas descabidas à psicanálise. Pois bem, então talvez eu deva mexer no formigueiro.
Histeria é uma palavra que vem do grego, "hystero" e que significa útero. Vocês sabem que historicamente as mulheres são vistas como loucas, né? Mas por quê? Porque tem alguma coisa nas mulheres que o pessoal não consegue explicar. Hormônios, maternidade, possessão demoníaca, bruxaria... ao longo da história houve e continua havendo várias tentativas pra explicar por que somos diferentes dos homens, que acreditam que construíram uma boa parte da história.
Pois bem, eis que a histeria nasceu de uma tentativa de explicação, no tempo de Hipócrates, baseada numa crença mais ou menos assim (há várias versões), de que o útero virava de ponta-cabeça e o sangue menstrual subia pra cabeça. Aí as mulheres ficavam loucas. A ideia de associar a histeria à mulher é herdeira dessa historinha.
De lá pra cá é claro que a medicina avançou, Freud apareceu e hoje se sabe que não é disso que se trata a histeria. Sabemos também, há muito tempo, que há homens e mulheres histéricos.
Mas tem alguma coisa que conecta histeria e feminilidade que vai para além dessa herança histórica.
A ideia do senso-comum de o que é uma mulher, que diz da fulana insatisfeita, que quer o impossível, que quando consegue o que quer descobre que na verdade o que queria era outra coisa e outra e outra e outra - não está associada à loucura, mas à estrutura do desejo.
O desejo, como conceito psicanalítico, não tem objeto. Então a gente fica querendo algo que não sabe o que é, aí diz que é isso e que é aquilo como tentativa de nominar o inominável - e por isso temos o que fazer na vida, porque a gente nunca para de querer alguma coisa. O desejo, em psicanálise, por excelência, é histérico. (Por isso Lacan diz que é preciso histericizar o discurso para que alguém entre em análise.)
Se costuma-se falar da histeria, no feminino, e não no masculino, não é porque hajam apenas mulheres histéricas, mas porque há uma intimidade entre histeria e feminilidade.
Mas vejam, prestem atenção, em psicanálise, a feminilidade não é determinada pela biologia do sexo, mas é um modo de construir uma resposta para a pergunta "quem sou eu?", que toda criança faz - na melhor das hipóteses - ainda que de modo inconsciente.
Freud disse que os sujeitos masculinos são aqueles que se identificam aos que têm o falo e que os sujeitos femininos são aqueles que se identificam aos que não têm o tal do falo.
Aí, nesse ponto, beeeeem nesse ponto, a gente tem um equívoco muito grave e comum na leitura que algumas pessoas fazem na teoria freudiana, que é uma CONFUSÃO de falo com pênis.
E nisso a psicanálise lacaniana é bastante esclarecedora. (Para quem se interessar pelo assunto: leiam o texto do Lacan chamado "A significação do falo").
O fato é: O FALO NÃO É O PÊNIS.
O pênis é apenas um dos representantes possíveis para o falo, assim como vários outros significantes são substitutos fálicos, tais como dinheiro, diploma e tudo aquilo que tem valor para o Outro em nossa cultura.
Acontece que, por questões articuladas à nossa civilização, o pênis tem um valor elevado, levando assim, muitos homens (e mulheres) a acreditarem que o pênis é o falo.
Acontece que NINGUÉM tem o falo. Mas quem se constrói de modo feminino, e nós chamamos de mulheres, sabem bem disso. Já os sujeitos a quem chamamos de homens, tendem a ser mais enganados.
Os seres masculinos, ditos homens, levam o pênis muito a sério. Tanto é que, é comum (infelizmente) que mulheres frígidas passem a vida toda sem sentir prazer sexual e sem reclamar, enquanto que, para os homens, a impotência sexual é o FIM DA VIDA. Inclusive, no senso-comum, é recorrente que as mulheres digam aos homens "pense com a cabeça de cima". Sim, eles creem que têm o falo e que a cabeça de baixo é muitíssimo importante.
Entendo que é nesse ponto que os movimentos feministas devem focar, na separação entre falo e pênis. E não na crença de que o falo é mesmo o pênis, o que leva algumas mulheres a uma certa misandria.
Não acredito que o machismo possa ser bom pra alguém. Acho que ele é devastador para mulheres e para homens também. O machista precisa provar sua virilidade o tempo todo, precisa de uma grande dose de libido pra ocultar seus sentimentos, precisa objetalizar todas as mulheres - e ainda salvar a mãe - e tem que ter uma boa dose de homossexualidade em precisar amar tanto um pênis para poder existir. Por isso não é de se surpreender que muitos homens machistas sejam homofóbicos - é preciso aniquilar fora de si aquilo que não se consegue aniquilar dentro.
Entendo que a genialidade da contribuição psicanalítica de Freud e de Lacan é colocar o feminino, não como pertencente ao campo das mulheres, mas em colocar o feminino como enigma, como um além da lógica fálica.
Lacan pôs a feminilidade não como para quem falta algo (tal como era em Freud), mas como alguém que tem um excesso de gozo. A mulher lacaniana é aquela que não se contenta com a lógica fálica, porque sabe que há mundos e fundos para além disso.
A sexualidade feminina, nas teorias de Freud e de Lacan, não aparece no sentido binário da coisa, mas como um excesso, que aparece como enigma.
E o genial disso é que esse enigma, ao invés de ficar presente apenas no campo da histeria, na teoria psicanalítica pode aparecer do lado homem também.
Só que na masculinidade essas questões tendem a ficar mais abafadas, visto que a tal virilidade os leva a acreditar que o pênis é mesmo o falo. Um grave engano, que tem seu preço.
Os homens mais advertidos, que, muitas vezes são os que fazem análise, sabem bem desse engano e tendem a poder ter contato com esse impossível que mora neles também. Estes, que não têm tanto medo da queda da virilidade, paradoxalmente, são os mais viris.
A grosso modo, me arrisco a dizer que histéricos são os sujeitos que podem acessar os enigmas em si. Longe disso caracterizar misoginia ou reproduzir padrões culturais de machismo, entendo que os histéricos são aqueles que têm juízo e por isso têm medo do abismo - mas não recuam diante dele.

Ana Suy

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

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Ainda que o tempo passe e você ache que nunca mais, eu vou ser toda sua.
Ainda que não lembre meu gosto e não reconheça meu rosto, ainda que evite pensar.
Ainda que nesse momento você não se sinta capaz, eu vou ser toda sua.
Ainda que esteja sem força, a água secando na boca, ainda que tema se olhar.
Queira, acredite, me aguarde: eu vou ser, de verdade.
Ou eu vou ser toda sua ou não me chame…
Ainda que essa ventura pareça distante demais, eu vou ser toda sua.
Ainda que me imagine dos outros, prazer e alegria dos outros e maldiga a hora em que me desejou.
Queira, acredite, me aguarde: eu vou ser, de verdade.
Ou eu vou ser toda sua ou não me chamo, ou não me chamo…
Felicidade.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Resoluções.

Mais um ano que se renova. Cheio de possibilidades, todinho em branco, para que possamos escrever nossa história.

Resoluções de ano novo sempre me animaram. Pensar no que posso ser, no que posso fazer.
São tantas coisas!
Pensar que tenho novas oportunidades, e tudo depende de mim.

É também uma responsabilidade sem fim.
Mas a vida fica muito mais emocionante quando sabemos o que queremos, e o que precisamos fazer para atingir aquela meta.
Escrever listas, pensar no que se deve fazer. Mirar num futuro.

É isso que nos move!

Se não tivermos uma meta, se não houver algo que nos impulsione, não saímos do lugar.
Não fazemos metas para os outros. Fazemos para nós mesmos.
Gosto muito de chegar ao fim do ano, abrir minhas listas que fiz no começo daqueles 365 dias, e ver o que fiz, o que deixei de fazer, e ponderar: pq não consegui? O que consegui?

Agora é hora de elaborarmos novas ideias.
<3 nbsp="" p="">O negócio é colocar a mente para produzir e identificar o que te move.

Que 2017 seja incrível!