sexta-feira, 26 de agosto de 2016

ex.pi.rou


Sinto falta de um tempo que eu ouvi dos amigos
Tava escrito num livro
Tocou numa vitrola
Foi dançado, cantado, recitado, falado
Publicado, sentido, decupado, contado
Mas eu não tava ali
Quando é que a saudade daquilo que a gente não viveu passa?
Se passa, parece que já foi, mas quando você vê volta
Volta porque tem a tua cara, tem a ver com a tua história
Quando é que a saudade daquilo que a gente não viveu passa?
Pretérito mais que perfeito
Todo tempo, todo instante que passou
Se passar batido, perde seu sentido
Se não faz sentido, é porque expirou


Expirou - Tulipa Ruiz

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

sexta-feira, 19 de agosto de 2016



Debaixo d'água tudo era mais bonito
Mais azul, mais colorido
Só faltava respirar
Mas tinha que respirar


Debaixo d'água se formando como um feto
Sereno, confortável, amado, completo
Sem chão, sem teto, sem contato com o ar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia

Debaixo d'água por encanto sem sorriso e sem pranto
Sem lamento e sem saber o quanto
Esse momento poderia durar
Mas tinha que respirar

Debaixo d'água ficaria para sempre, ficaria contente
Longe de toda gente, para sempre no fundo do mar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
todo dia
Todo dia, todo dia

Debaixo d'água, protegido, salvo, fora de perigo
Aliviado, sem perdão e sem pecado
Sem fome, sem frio, sem medo, sem vontade de voltar
Mas tinha que respirar

Debaixo d'água tudo era mais bonito
Mais azul, mais colorido
Só faltava respirar
Mas tinha que respirar
Todo dia

Agora que agora é nunca
Agora posso recuar
Agora sinto minha tumba
Agora o peito a retumbar
Agora a última resposta
Agora quartos de hospitais
Agora abrem uma porta
Agora não se chora mais
Agora a chuva evapora
Agora ainda não choveu
Agora tenho mais memória
Agora tenho o que foi meu
Agora passa a paisagem
Agora não me despedi
Agora compro uma passagem
Agora ainda estou aqui
Agora sinto muita sede
Agora já é madrugada
Agora diante da parede
Agora falta uma palavra
Agora o vento no cabelo
Agora toda minha roupa
Agora volta pro novelo
Agora a língua em minha boca
Agora meu avô já vive
Agora meu filho nasceu
Agora o filho que não tive
Agora a criança sou eu
Agora sinto um gosto doce
Agora vejo a cor azul
Agora a mão de quem me trouxe
Agora é só meu corpo nu
Agora eu nasco lá de fora
Agora minha mãe é o ar
Agora eu vivo na barriga
Agora eu brigo pra voltar
Agora
Agora
Agora

Salta pra sentir


Escrevo porque não cabe dentro de mim.
As coisas saem, implodem, arrebentam e arrebatam...

Nos últimos tempos percebo que quero sentir isso
busco amores fortes, advindos de rompantes.
Entregas intensas e sem medidas.

Me sinto intensamente adolescente,
é algo delicioso.
Difere daquele amor calmo e sereno.
Eu quero essa maré arrebatadora.

Ao mesmo tempo que exito, quero me jogar.
Saltar sem mensurar o que pode doer.
Eu só quero sentir.
Me guardar nesse teu braço sem sentir o que acontece em nossa volta.


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Espaços não escolares

Aprender que o aprender
Não está somente no ler e escrever
Mas que existem outras formas de saber
A do viver, a do sentir, de quem chora, de quem ri
Da dona Maria ao seu João
Que contam histórias com muita emoção
Do pescador ao catador de latinhas
Que vive na rua aprendendo com a vida
Do samba de roda ao boi de mamão
Que cantam Cultura através da canção
Do grafite no muro à pipa no ar
Que pintam pro mundo educação popular

- autoria do autor