domingo, 13 de dezembro de 2020

Principia

 Vejo a vida passar num instante

Será tempo o bastante que tenho pra viver?
Não sei, não posso saber
Quem segura o dia de amanhã na mão?
Não há quem possa acrescentar um milímetro a cada estação
Então, será tudo em vão? Banal? Sem razão?
Seria, sim seria, se não fosse o amor
O amor cuida com carinho
Respira o outro, cria o elo
O vínculo de todas as cores
Dizem que o amor é amarelo
É certo na incerteza
Socorro no meio da correnteza
Tão simples como um grão de areia
Confunde os poderosos a cada momento
Amor é decisão, atitude
Muito mais que sentimento
Alento, fogueira, amanhecer
O amor perdoa o imperdoável
Resgata a dignidade do ser
É espiritual
Tão carnal quanto angelical
Não tá no dogma ou preso numa religião
É tão antigo quanto a eternidade
Amor é espiritualidade
Latente, potente, preto, poesia
Um ombro na noite quieta
Um colo pra começar o dia
Filho, abrace sua mãe
Pai, perdoe seu filho
Paz, é reparação
Fruto de paz
Paz não se constrói com tiro
Mas eu miro, de frente
A minha fragilidade
Eu não tenho a bolha da proteção
Queria eu guardar tudo que amo
No castelo da minha imaginação
Mas eu vejo a vida passar num instante
Será tempo o bastante que tenho pra viver?
Eu não sei, eu não posso saber
Mas enquanto houver amor, eu mudarei o curso da vida
Farei um altar pra comunhão
Nele, eu serei um com o mundo até ver
O ponto da emancipação
Porque eu descobri o segredo que me faz humano
Já não está mais perdido o elo
O amor é o segredo de tudo
E eu pinto tudo em amarelo

Pastor Henrique Vieira

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Olhar para si

 A verdade é que eu negligenciei por muito anos a minha surdez.

Nunca olhei pra esse lugar, pro que ele causava em mim. E me sinto vivendo num limbo, onde não pertenço à categoria de surdos, nem à categoria de ouvinte.

E durante muito tempo a vivência da minha surdez foi suprimida pela minha família e meu círculo social, me fazendo negá-la. Claro que sei que todos fizeram isso com as melhores das intenções, afinal, as deficiências em nossa sociedade são vistas como algo ruim.

Era aquela coisa: "Nossa, você não tem cara de surda" ou "Puxa, você se comunica bem, como que é surda?" "Mas você não é surda, você só não escuta muito bem algumas coisas..." E assim foi sendo uma construção negativa acerca da minha surdez, a qual eu reforço cotidianamente.
Mas a verdade é que tenho uma perda de audição moderada bilateral Isso significa que eu tenho aproximadamente 50% menos de audição em cada ouvido Só que minha perda foi gradual, o que fez com que eu me adaptasse. Aprendi a fazer leitura labial, corporal. Além do uso do aparelho
E a apropriação dessa condição está vindo agora, aos 30 anos. Entendendo que minha perda está progredindo, e honestamente, não sei se um dia terei uma perda total.
Mas o fato é: não me sinto pertencente à condição de deficiente
E muitas vezes me negam isso de várias maneiras: simbólica, me desqualificando enquanto pessoa surda. E eu fico sem saber onde me encaixar.

Vejam: não estou afirmando aqui que possuo as mesmas dificuldades de uma pessoa que nasceu surda. Não. Eu não faço parte da cultura surda. E não estou reivindicando isso.

Mas estou expondo minha realidade de pessoa que perdeu a surdez aos 4 anos de idade e essa perda progrediu ao longo da vida, chegando ao estágio que cheguei atualmente.
E hoje me vejo surda, sem saber me enquadrar em determinados espaços.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

A chegada dos 30

 Faz tempo que a vida passa. 

Eu só posso agradecer. Parece clichê, eu sei. 

Fazer o que? A vida é clichê... 
Sou grata por tudo que vivi, pelos caminhos que trilhei, por quem eu me tornei. 

Só eu sei as dores e delícias de bancar as minhas decisões. De escolher as minhas batalhas. De sorrir por onde passo. 

não me sinto velha, ao contrário. Me assusto quando penso na minha idade. 

Não tenho medo de envelhecer, eu apenas não sinto como o tempo passa, embora ele siga passando. 

Me vejo feliz e satisfeita quando observo que sou quem eu quis ser. 

Obrigada, vida, por ter me dado tanto!

Espero continuar sendo digna das conquistas desse caminhar lindo. 

sábado, 8 de agosto de 2020

Queixa

 Um amor assim delicado

Você pega e despreza
Não devia ter despertado
Ajoelha e não reza
Dessa coisa que mete medo
Pela sua grandeza
Não sou o único culpado
Disso eu tenho a certeza
Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora me diga aonde eu vou
Senhora, serpente, princesa
Um amor assim violento
Quando torna-se mágoa
É o avesso de um sentimento
Oceano sem água
Ondas, desejos de vingança
Nessa desnatureza
Batem forte sem esperança
Contra a tua dureza
Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora me diga aonde eu vou
Senhora, serpente, princesa
Um amor assim delicado
Nenhum homem daria
Talvez tenha sido pecado
Apostar na alegria
Você pensa que eu tenho tudo
E vazio me deixa
Mas Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito essa queixa
Princesa, surpresa, você me arrasou
Serpente, nem sente que me envenenou
Senhora, e agora me diga aonde eu vou
Amiga, me diga

- Caê

Você ainda quer dançar comigo?

 Um girassol da cor do seu cabelo... 

Acho que essa é uma das músicas mais doloridas que conheço. 

Hoje eu chorei por causa de uma objetificação. Na verdade, foi a segunda. Feita pela mesma pessoa em um curto espaço de tempo. 

Prometi a mim mesma: Não haverá outra vez. Não quero sentir de novo essa tristeza. 


"Você é maravilhosa, compreensiva, engraçada! Você conquista as pessoas, e você ama as pessoas, você faz as pessoas se sentirem queridas e amadas."

Eu não quero perder isso. 
Eu quero continuar sendo essa pessoa. E quero que os outros continuem me vendo assim. 


"Amiga, você vai. Você vai encontrar alguém sim, mas você precisa encontrar alguém que queira ser amado.

Porque a questão é que você ama muito, e nem todo mundo sabe ser amado."



quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Fui indo.

Descobri um padrão. 
Me afasto para não doer. 
Quando algo me provoca uma dor tão grande, eu fujo. 
Não argumento, não brigo. 
Eu simplesmente vou. 
Para evitar aquela dor de novo, eu pego minhas coisas e me vou. 
Mesmo que eu morra de dor de saudade. 
Mesmo que eu fique muito triste com a distância. 
A minha mágoa, a minha dor, não me permitem ficar perto. 

E eu sei que não é resolutivo. 
Mas é auto protetivo. 
Faço isso pra não doer. 
Faz parte do meu processo. 

É assim sempre. 
Com meu pai. Com minha mãe. Com quem está ao meu redor. 
Minha concha dói menos. Ali dentro eu já conheço. 

A ideia é melhorar isso
Passo a passo...

quarta-feira, 29 de julho de 2020

O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
- Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios com as suas peraltagens
E algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos


- Manuel de Barros

terça-feira, 30 de junho de 2020

102º Dia

Precisamos conversar sobre a exaustão causada por essa pandemia.
Desde que começamos com o Home Office, eu nunca mais tive um momento de paz.
Minha jornada de trabalho aumentou exponencialmente, embora tenha entrado em redução de carga horária e salarial.
Eu passo horas a fio em frente ao computador. Não consigo sair, não consigo alongar minhas costas.
Minha vida se resume entre minha cadeira do pc e minha cama.
Estou num ritmo nem um pouco saudável.
Edições de vídeo, colaborações, preparação de aula, currículos, matrizes, aulas online. Tá demais.
E quem disse que vou reclamar? Jamais.
Tenho medo de perder o emprego. Vou fazer tudo que a chefe mandar e ainda sorrir.
Por dentro queimo de ódio.
São nessas coisas que o capitalismo vence, maldito. Essa exploração desenfreada, o medo do trabalhador encurralado pela pressão cotidiana.
Não tem saúde mental.
Não tem saúde física.
Não tem tranquilidade.
Sobra desgaste e ansiedade nesses dias intermináveis.
Previsão de Lockdown para o PR. A impressão é que nunca mais sairemos de dentro de casa.
A angústia e o medo, em determinados momentos, tomam conta.
Só não se apoderam mais porque não dá tempo de pensar tanto.
É isso que o sistema faz: te engole.
Você vira engrenagem do sistema e não pode reclamar. Nem consegue, na verdade.
Relativizamos mortes. Passamos das 58 mil. Banalizamos a vida, banalizamos os números. Estamos largados a nossa própria sorte. Seja no Micro, seja no Macro.
E diante disso tudo, eu só consigo pensar: o que vai ser de nós?

terça-feira, 23 de junho de 2020

Amor em tempo de pandemia.

Falar sobre amor em tempos de pandemia é algo muito diferente.
Perceber o outro, perceber as formas de amar.

As relações se modificaram. Precisamos observar mais atentamente as linguagens do amor, caso contrário, não conseguiremos seguir em frente.

Pensar o amor sempre recai no amor romântico.
Mas saber lidar com o amor é algo muito além do necessário.
Hoje percebi essa minha necessidade: de falar sobre amor. De pensar sobre o amar.
E aí descobri um vídeo sensacional.
e eu vou deixar registrado aqui pra nunca esquecer:

https://www.youtube.com/watch?v=8g4AU2pZ_Kw


Falar sobre solitude, solidão, e o amor próprio.
Falar sobre estar com alguém, mas estar só.
Esses tempos têm deixado a gente com o pensamento todo enrolado, mas é bom pensar sobre, e quem sabe, pensar junto?

https://blogdaboitempo.com.br/2020/05/26/zizek-sexo-em-tempos-de-coronavirus/

domingo, 10 de maio de 2020

Cansei de esconder a dor.


Acho que a vida é isso. Cada um com sua dor, tentando dar conta do que pode.
Ainda tem mágoa demais, não consigo lidar achando que tá tudo bem, fingindo que nada acontece.
Eu até tentei fazer isso, mas várias foram as vezes que você não se importou. Se omitindo, ignorando, fingindo que não era com você.
Então não deu pra segurar, não deu pra não sentir.
Você joga baixo. Acho que não consegue lidar com isso também. A saudade até existe, mas ela sempre vem seguida de dor e chateação.
Sempre seguido de cobrança e acusação. Não sei, mas acho que amor de mãe não tinha que ser assim. Não sei dizer porque a tua referência que tenho de amor materno dói assim.
Mas ao longo da vida aprendi que amor não pode só causar dor. Então não, não aceito isso que você tem pra me dar.


Dia a dia lado a lado

Eu sonhei que estava exatamente aqui
Olhando pra você
Olhando pra você exatamente aqui
Cê não sabe, mas eu tava exatamente aqui
Olhando pra você
Olhando pra você exatamente aqui
Pronto para despertar
Perto mesmo de explodir
Parto para não voltar
Pranto para estancar
Tanto para acordar
Tonto de tanto te ver
Perto mesmo de explodir
Prestes a saber por quê
Por que um raio cai?
Por que o sol se vai?
Se a nuvem vem também
Por que você não vêm?
Nada a ver ficar assim sonhando separado
Se no fundo a gente quer o dia a dia, o lado a lado
Eu não vou deixar você com esse medo de se aproximar
Pra ter um fim toda história um dia tem que começar
Então, me diz, por que um raio cai?
Por que que o sol se vai?
Se a nuvem vem também
Por que você não vem?
É natural que seja assim você aí
E eu aqui, exatamente aqui

sábado, 9 de maio de 2020

Somos tão passageiros que, não somos, estamos. 

terça-feira, 5 de maio de 2020

47º

O óbvio sempre precisa ser dito. 

Não esconda seus sentimentos. Principalmente de você.
Fale hoje que você gosta.
Fale hoje que você sente falta.
Ainda que doa. Faça a sua parte, não pelos outros: por você

"Não conheço nenhum pessimista que tenha tido muito sucesso"

terça-feira, 28 de abril de 2020

Para não esquecer: 

O todo é a soma de todas as partes. 



Parece redundante. 
Mas é exatamente isso. 

39º

O tempo passa e a gente não vê
só quando bate o vazio...


quarta-feira, 15 de abril de 2020

26º dia

Acho que de tudo que é difícil nessa quarentena, o mais é ter que dar conta de si, sozinha.
Pensar sobre o futuro é uma realidade.
Mas não é só aquele futuro bom, promissor, fazer planos e traçar metas.
É também pensar em perdas, ficar aflito com o que pode vir. Com quem pode nos deixar.

Tenho trabalhado firme pra não me deixar vencer pela ansiedade, pelo medo, pela angústia.
Todo dia é um exercício diferente.
Ter uma rotina de trabalhos com a casa, limpá-la, cuidá-la. Ter uma rotina de exercício comigo. Self Care. Além do home office.
Parece um papo bobo, mas tem feito toda diferença.
Ajuda o tempo passar, faz bem pra cabeça, o coração fica mais tranquilo.

E pouco a pouco os dias vão passando. Quando percebemos, já é o vigésimo sexto dia internada em casa.
Não reclamo da minha condição, é um privilégio poder me cuidar, poder ficar em casa.
Saio para as coisas essenciais: Mercado, banco. E só.
Queria que todos pudessem ser assim. Especialmente da minha família. Sei que meu  pai e meu irmão precisam trabalhar, se não, não há almoço. Não existem contas pagas.
Mas o coração me aperta. Tenho feito o que posso, pago remédios. Dou o que posso de dinheiro. Mas eles também não se sentem confortáveis.

Tem sido bem difícil.
São várias batalhas internas.
Sobra a esperança em dias melhores.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Tarja branca


"Você tem que lembrar daquele menino que você foi. Aquele menino está o tempo todo olhando para você e perguntando: E aí, o que você fez de mim?"


"A gente precisa lembrar desse brilho, de quando a vida ainda era muito misteriosa"


Falas retiradas do documentário Tarja Branca. Para alentar o coração.

terça-feira, 31 de março de 2020

11º Dia

Ao longo desses meus quase 30 anos nem nos meus piores pesadelos eu poderia imaginar algo tão catastrófico e desastroso como essa pandemia. Ficar enclausurado em casa, sem poder sair, com medo de uma ameaça invisível. O mundo parou!
Não há trabalho, poucas pessoas na rua. O capitalismo vive sua pior crise. E a recessão econômica que viveremos não está no gibi.

Estamos diante de um cenário bastante assolador. 

Mas, ainda bem que nessa vida sempre tem um Mas. 

Acho que, apesar de tudo, essa pandemia trouxe novos olhares. Senão sobre os outros, sobre mim. 
Me forcei a olhar para mim, a trabalhar meus medos, dialogar com eles. 
O mais difícil desses dias é ter que entender que ao mesmo tempo que dependemos do convívio em sociedade - e sentimos muita falta deles -  precisamos, antes de tudo, dar conta da gente. 
Nos últimos dias as reflexões têm sido inevitáveis, assim como os questionamentos: 
Sobre amores, sobre quem queremos bem, sobre perdas, sobre os caminhos a seguir em frente. 
Tem sido um turbilhão infindável. 

Confesso que tinha medo do que poderia resultar tudo isso, afinal, quando a gente se confronta é um tanto inevitável ~colapsar (essa palavra tem andado na moda nos últimos dias). 
Mas (sempre o mas) as coisas têm andado bem. O período é de introspecção, mas muito bom. 

Tenho me (re)aproximado da minha fé.
E percebido a necessidade de exercitá-la. Não da pra gente perder isso de vista nunca.
Buscado entender qual meu papel no mundo diante disso tudo, mentalizado coisas boas. 
Tenho feito o exercício de pensar em coisas boas, de buscar alento nas palavras e nas pessoas. 

A quarentena me fez parar, respirar, olhar pra dentro para que possa refletir lá fora. 
Modesta parte, eu sei que sempre fui uma pessoa solidária e empática, mas tenho percebido que o mundo precisa mais do que isso.
Ainda há muita confusão acerca disso. Ninguém sabe quando isso vai terminar, quanto tempo vai durar. As incertezas são muito fortes. 

Que essa pandemia nos faça buscar dentro de nós a cura pro mundo, a cura pra nós mesmos.
Que tenhamos força e sabedoria para seguirmos em frente. 
Que sejamos luz durante esse período de escuridão.

domingo, 29 de março de 2020

.

O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que passou fome. A fome também é professora. 

-Carolina Maria de Jesus- quarto de despejo 

segunda-feira, 23 de março de 2020

o caos

Quatro meses sem aparecer por aqui, parece que fazem anos...
As notícias não são boas nem animadoras. Presenciar uma epidemia, ver o mundo todo em quarentena, o pânico instaurado já é, por si só, ruim.
Adicione nisso tudo a questão de um presidente lunático, higienista e protecionista de grandes empresários.
Esse é nosso cenário. Caos é apelido.
Nunca senti tanto medo do que está por vir. Nunca pensei que algo nessa magnitude fosse acontecer. Penso que uma guerra traria menos incerteza do que tudo isso.
Manter a cabeça sã e no lugar é o mais difícil, diante desse cenário.
Temo pelos meus, por mim nem tanto. Mas sei que as pessoas que amo estarão diretamente afetadas.
Ficar longe de todos já é ruim o suficiente. Pensar que eles sofrerão, é pior ainda.