Certa vez, me lembro bem, quando na infância fui ávida para comer um pedaço de chocolate embrulhado num lindo papel azul, guardado em um cantinho especial da geladeira. Fui sorrateira, sem que minha avó visse, e comi tudo, numa bocada só.
Mas era fermento de pão. Tinha um gosto que amarrava a boca, e eu espumei muito. Feito cachorro com raiva.
Dor de amor é igual.
Você pensa que não vai sobreviver a incrível maledicência. Que vai pra sempre espumar, e o gosto que amarra a boca nunca mais vai sair. Não importa o quanto você escove os dentes, ou cure o coração.
Depois que a dor passa, você até se sente tentado a experimentar novamente.
Depois de um tempo, você se pega admirando aquele pacotinho bonito, azul, guardado no cantinho da geladeira. Você sabe que talvez seja fermento de pão. Mas talvez, possa ser um chocolate esquecido.
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