16/05/1947

Depois de muito tempo, eu percebi que nunca havia falado de você por aqui...
Que tamanha injustiça.

Logo você, que foi a única pessoa que apostou em mim quando ninguém mais o fazia.

Me peguei admirando o teu cabelo acinzentado, com esses charmosos fios brancos caindo pelo seu rosto, eles soltinhos e ondulados...
Como teu cabelo é bonito.

O teu olhar, um tanto rude para quem não te conhece.
Mas eu sei ver o amor por trás dessa rigidez toda. Vejo nele aquela douçura ofuscada pelo rosto sisudo que a vida lhe fez ter. Sei identificar o quanto você tem de bom dentro de si, através dele.

As tuas mãos ásperas, aquele seu dedinho dolorido por causa da artrose.
O seu sorriso contido. Sincero.

Você brigando comigo porque eu não deixo o meu quarto arrumado, e não ando de chinelo pela casa, deixando a marca do meu pé no chão.
Esbravejando as vezes que esqueço o box do banheiro aberto, e dos brinquedos do Balu espalhados pela casa.

Lembrando das vezes que nós duas, deitadas na cama, ríamos, compartilhando breves momentos que ficaram pra sempre guardados na memória.
O carinho com o qual você me acordava todo dia para ir ao colégio, naquelas manhãs frias de curitiba.
O afinco que você tinha em me fazer ser uma pessoa melhor.
Os surtos que eu já te causei, por ser assim, inquieta e indignada com essa vida.

Você sempre esteve ao meu lado.
Independentemente de eu estar certa ou errada.
Você nunca questionou se era correto fazê-lo.

Você é com toda a certeza, a melhor pessoa que poderia ter cruzado essa minha vida louca.
E a cada dia que passa, eu te descubro de uma maneira diferente.


Isso que me envolve, me modifica tanto, não é apenas amor de mãe e filha.
É muito mais.

Você não é apenas a minha mãe.

É o meu exemplo de mulher, meu modelo, minha base, minha amiga, meu porto seguro, meu refúgio.
Você é tudo aquilo que um dia eu não tive, mas pude escolher tê-lo em você.


Inexplicável. É assim que você é.
Mais ainda, inexplicável é esse amor que eu sinto e nutro a cada dia por você.

Minha Titia.