sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Viagem.

E, nessas horas, você se pega com uma saudade dolorida no peito, corre pra olhar na folhinha do calendário quanto tempo faz que ela foi embora. 

Ainda falta... Ela faz falta.

Inúmeras foram as vezes que você, na força do hábito, discou o número dela pra ligar e contar alguma novidade do dia, ou então, pensou em mandar uma mensagem para sentarem no Barigui vendo o sol, falando sobre alguma tragédia grega passageira da vida. 

Então, a surpresa vem: Você se pega com saudades daqueles defeitos que mais te irritavam nela. Aquele jeito turrão, na tentativa falha de ser ruim. Por mais que tente, ela não consegue ser ruim... Ela tem um coração bom demais pra  pensar em ser má. 

Dona de uma velhice precoce sem igual, cujo pijama era a melhor companhia nas noites badaladas de sábado. Várias foram as vezes que você se pegou indignada, principalmente porque era contigo que ela deixava de sair pra se fechar naquele mundinho maluco de quarto, livros e computador.

Ela nunca foi muito normal, nada previsível, humor cítrico -pra não dizer ácido-, nada convencional. Aqueles modismos nunca foram a sua praia. 

Era aquele tipo de pessoa que sabe sim sobreviver sozinha. Independente. Se tinha vontade, ia e fazia, do jeito que bem entendia e ponto. Não tinha receios, desbravava todos os seus medos e anseios. Segura de si e bem resolvida. 

Acho que ela nunca soube ao certo o quanto você a admirava por isso. O quanto você queria aprender a ser mais assim, como ela.  Mas em vinte e dois anos de amizade, existem coisas que não precisam ser faladas para que uma possa compreender a outra. A sinergia é involuntária. 

Enquanto isso, você permanece aqui, saudosa de tudo, riscando mais um dia na folhinha do calendário esperando-a, novamente, voltar. 

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